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Recuperar a razão
Tornarmo-nos jardineirxs planetárixs

Natasha Prévost, imigrante canadiana na Andalusia, escreve sobre a nossa relação e responsabilidade com ecossistemas locais, a partir das experiências ligadas ao projecto Hacienda de Los Posibles — Centro de Producción, Creación y Cultura Ecológica.

Possibilidades Futuras

Emigrei do Canadá para Granada, Espanha, em 2013. Conhecia e adorava Granada e decidi experimentar o que é imigrar como mulher, na casa dos trinta anos, com um diploma de ensino superior e experiência de trabalho académico profissional no Sul de Espanha. O Instituto de Desenvolvimento Regional da Universidade de Granada acolheu-me como investigadora visitante. O então diretor ofereceu-me uma lista de colegas universitários que partilhavam os meus interesses de investigação. Um mês depois da minha chegada, conheci um ativista e professor de História da Arte que trabalha sobre a paisagem rural e a sua proteção. Expliquei-lhe que tinha visto várias propriedades rústicas (a minha ideia inicial era comprar um pedaço de terra e ser permacultora) mas que, como canadiana que era, me faltavam árvores, uma pequena floresta. Foi então que me foi lançado o feitiço. Talvez eu gostasse, sugeriu ele, de um sítio chamado Jesús del Valle. Cinco dias depois, a 1 de dezembro de 2013, ao fim da tarde, quando o sol já tinha deixado o vale mas ainda iluminava os picos nevados da Serra Nevada, vi a quinta dos Jesuítas e a paisagem circundante.

Senti-me como se num vórtice onde se agitavam à minha volta clarões de antigos proprietários de terras; o Emirado de Granada de Al-Andalus, jesuítas, aristocratas, fascistas, novamente aristocratas, corporações. Regressei transformada, possuída pela ideia de serviço, de concentrar as minhas energias a tornar o local novamente próspero, um cadinho das boas práticas que tinham mantido esta paisagem agroflorestal a produzir abundância durante mais de mil anos.

Strawberry Fields Forever: colher vidas

Localização: Sul da Europa, Andaluzia, Província de Granada, 2.000 hectares de terras agrícolas, parte do município de Granada, chamado o vale do rio Darro, onde as ruínas de uma quinta Jesuíta (vulgarmente conhecido como Jesús del Valle) dos séculos xvi–xvii, agora propriedade privada, com 400 hectares de terra, irradia potencialidades. A avaliação do valor da propriedade é de cerca de 2,1 milhões de euros para o terreno e 120 000 euros para os edifícios da quinta.

Primeiro, olhemos para os constrangimentos (propriedade privada, política, economia, modelo maioritário) a inibir a emergência de potencialidades. A empresa proprietária do imóvel é um promotor-construtor imobiliário individual que também tem duas empresas (rastreáveis) de construção, desenvolvimento e imobiliário. Em 2023, o indivíduo e as empresas tinham uma dívida de 11,8 milhões de euros às autoridades fiscais espanholas por suborno e branqueamento de capitais. Conheci o proprietário José Ávila Rojas algumas vezes no início de 2016, quando estava a pedir 20 milhões de euros pela propriedade de 400 hectares, incluindo a quinta em ruínas. Propôs-me assinar um contrato de compra e venda ilegal. Ávila Rojas é dono da maior parte das terras do Vale do Darro. Comprou estas parcelas por quase nada nos anos 80, com o objetivo de urbanizar todo o vale. A terra do vale do Darro está registada como rústica, mas o registo pode mudar, se as circunstâncias forem propícias. Como qualquer tentativa de venda será levada ao conhecimento dos seus credores, Ávila Rojas está de certa forma atado às suas propriedades.

A solução legal é a expropriação forçada da propriedade. A Quinta Jesuíta está registada como Património Cultural desde 2005, o que torna os governos locais e regionais responsáveis pela proteção e manutenção do local e lhes dá o poder de expropriar a propriedade aos proprietários que não cumpram as suas obrigações. Infelizmente, não há em todo o espectro político disponibilidade para expropriar a propriedade, putativamente por falta de recursos financeiros para gerir a Quinta dos Jesuítas. Poderiam lançar um concurso público para propostas de projectos que respeitem a agenda 2030 da onu. Uma moção que diz isso mesmo, redigida por colaboradores e por mim, foi ratificada pela maioria dos partidos políticos no final de 2016 na sessão plenária da Câmara Municipal de Granada.

Para implementar um projeto que adira à agenda 2030 da onu e que cumpra as regras de denominação do Património Cultural, são necessários cerca de 25 milhões de euros. Localmente, ao nível da cidade, província, região, país, não consegui atrair nem aceder ao tipo de investidores interessados em projetos de economia circular e justiça social. Pelo contrário, como mostra a próxima secção, atualmente, no Sul de Espanha, os projectos que atraem investidores são monoculturas agro-industriais de grande escala. Nelas, 90% da colheita é exportada para fora de Espanha e dependem fortemente de mão de obra temporária barata, uma vez que os habitantes locais não estão interessados nas condições de trabalho. Estas explorações constituem essencialmente um investimento a curto prazo para extracção de fluxos de um ecossistema já deteriorado que deixará para trás um deserto quando esgotar os recursos hídricos.

No ano de 2023, na Europa, um número crescente de empresas está a comprar grandes extensões de terra. Apesar disso, tanto a União Europeia como as Nações Unidas defendem uma agricultura familiar sustentável, por oposição à Política Agrícola Comum (pac) que apoia a produtividade a todo o custo incluindo na última reforma para o período de 2023–2027. Para além de enviarem mensagens contraditórias estas posições opostas não oferecem uma base concreta de apoio para a agricultura de pequena escala. Até há pouco tempo, quanto mais se possuía, em termos de hectares de terra, mais subvenções públicas o proprietário recebia. A jornalista Lucile Leclair deu o exemplo da empresa francesa Euricom, que possui 1 300 hectares de solo agrícola em França. No âmbito do estímulo de financiamento da pac, a Euricom recebeu 680.000 euros em 2020, quando o financiamento médio por propriedade (com muito menos hectares) é de 30.000 euros. Em França, 10% das terras são propriedade de empresas agro-industriais, ao passo que na região da Andaluzia, em Espanha, são 20%. Esta evolução é claramente antagónica a uma agricultura familiar sustentável, e pressupõe que os agricultores se tornem, com semelhanças à ruralidade feudal da Idade Média, mão de obra barata, sem ligação afectiva ao solo.

Os proprietários empresariais, com a sua vasta extensão de terras, são estranhos à noção da humildade existencial do agricultor ou jardineiro que sabe que a relação humana com o solo cultivado é uma relação de interdependência. Humildade vem da palavra latina humilitas, um substantivo relacionado com o adjetivo humilis, que pode ser traduzido como humilde, mas também como aterrado, ou da terra, uma vez que deriva de humus (terra). Os comportamentos e o modelo de gestão destes empresários quebram necessariamente tanto a relação entre o humano e húmus como o cuidado e o respeito por ambos. Na Andaluzia é possível ver vários exemplos claros desta quebra.

Um programa bilateral lançado em 2001 por Espanha e Marrocos traz milhares de marroquinos para a província Andaluza de Huelva durante um máximo de nove meses por ano para trabalharem principalmente na colheita de morangos. Este programa foi renovado com 16 000 trabalhadores marroquinos para o calendário de colheitas de 2022–2023, sob o nome irónico de Programa de Migração Circular. Para garantir que os trabalhadores participantes regressam a casa, os trabalhadores contratados são mulheres entre os 25 e os 45 anos com filhos à espera em Marrocos. O esquema governativo vincula contratualmente o trabalhador a um empregador e exige autorização dos empregadores para mudar de emprego, o que torna a mobilidade laboral quase impossível em caso de situações abusivas. Com o desemprego na Andaluzia a rondar os 18% em 2023, é de perguntar porque é que os nacionais não estão a preencher estes postos de trabalho.

A organização britânica Ethical Consumer reporta as condições de trabalho das trabalhadoras marroquinas e aponta para algumas explicações. É de salientar que no Reino Unido, onde está sediada a organização, 60% dos morangos importados durante o inverno provêm da província de Huelva. As condições de trabalho foram descritas e observadas como sendo frequentemente pagas abaixo do salário mínimo, horas extraordinárias sem serem pagas, passaportes ou salários retidos pelo capataz para manter as trabalhadoras a trabalhar sob ameaça. A mesma estratégia é utilizada para forçar as mulheres a terem relações sexuais. Milhares de pessoas vivem junto à instalação dos politúneis de morangos, em barracas construídas com material reciclado de estufas, sem saneamento básico, água corrente ou eletricidade. O Ministério do Trabalho espanhol realizou inspecções e distribuiu multas de 1,6 milhões de euros, mas será que isso incomoda realmente as empresas agro-industriais que ganharam 310 milhões de euros em 2022 com as suas vendas no Reino Unido?

Utilizemos uma lente multidimensional, para permitir que as camadas do atual modelo de produção alimentar se tornem visíveis. Primeira dimensão: as condições de trabalho das trabalhadoras agrícolas migrantes. Os dados actuais mostram que, no caso das mães migrantes marroquinas em Espanha, a possibilidade de regressar todos os anos para ganhar dinheiro para as suas famílias (é menos provável que trabalhando em Marrocos igualem o salário ganho em Espanha) foi suficiente para as convencer a cumprir o regime e condições de trabalho intensivo; a maioria das trabalhadoras utilizava o dinheiro para construir habitação em Marrocos. Trabalhar nos campos de morangos é o menor dos males, e o menor dos males é ser mão de obra estrangeira barata e infra-humanizada.

Segunda dimensão: a questão da escolha dos consumidores. A organização britânica Ethical Consumer aponta o dedo à falta de direitos laborais e de reforço da legislação do governo espanhol no sector empresarial agroindustrial da produção de morangos, especificamente na província de Huelva, na Andaluzia. Em 2019, o Reino Unido produziu internamente um recorde de 124 500 toneladas de morangos. O morango é um fruto da primavera-verão. Comer local e sazonalmente significaria uma mudança de comportamento dos consumidores, que deixariam de comer morangos durante todo o ano, cobrindo assim as necessidades de consumo nacionais com a sua produção interna.

Terceira dimensão: monocultura intensiva. 6.095 hectares em 2019 foram utilizados para a cultura do morango na província de Huelva. Os morangos precisam de cerca de 5 cm de irrigação diária durante a época de frutificação. A curto, médio e longo prazo, a cultura do morangueiro é insustentável.

Quarta dimensão: clima semi-árido. 75% do território espanhol está em processo de desertificação, sendo a região da Andaluzia a mais afetada. A guerra da água começou na província de Huelva para a irrigação de morangos, desviando e drenando a água do Parque Natural de Doñana (130 000 hectares), uma das zonas húmidas mais importantes da Europa, para os campos de morangos. Atualmente, a indústria da dessalinização da água do mar, outro negócio insustentável e de elevado consumo de energia, também está em expansão, embora o seu subproduto, a salmoura, seja um contaminante das águas subterrâneas e esteja altamente poluído.

Eis o legado da agroindústria empresarial do morango na Andaluzia: trabalhadoras agrícolas migrantes em condições de escravatura moderna, desertificação do solo por monocultura intensiva em energia negativa durante todo o ano, drenagem da água do Parque Natural de Doñana, aumentando as pressões existentes sobre a biodiversidade. Cerca de 90% dos morangos de Huelva destinam-se à exportação a longa distância dependente de energia fóssil (e não, a dessalinização da água do mar não é uma solução sustentável). É esta a única herança possível que 3.000 anos de agricultura nos deixaram? Ou haverá outros potenciais por realizar?

Projeção Utópica

Um potencial não é anterior ao seu aparecimento. Se não surge, é porque não estava realmente lá. Se surge, é porque na realidade acabou de chegar. A imprecisão é a forma como o potencial se apresenta no desenrolar da experiência. O grau de indefinição corresponde à margem de incerteza da situação. O vago é a novidade, o «próximo» do que voltará a ser — mas já, enquanto está em curso. É a diferença no processo de repetição.

Trevor Goward, um liquenólogo autodidata que vive na zona rural da Colúmbia Britânica, no Canadá, criou o conceito de emergência depois de observar e estudar os líquenes. O líquen é a emergência, isto é, o resultado da simbiose entre, por exemplo, algas e fungos. Tem características que não se encontram nas duas partes originais. A emergência é quando algo se torna mais do que a soma das suas partes.

Quando li estas linhas pela primeira vez, pensei imediatamente nas relações entre humanos. Andava à procura de um conceito para exprimir o que sentia sobre a amizade, o amor e, mais recentemente, sobre os não-humanos e como, sem o aparecimento de algo diferente, não há relação. Relacionamo-nos para criar, para nos tornarmos algo mais juntos. O tornar-me jardineira planetária está ligado à emergência das minhas interacções com os não-humanos e com os humanos. O tornar-me tem a ver com ação, com a ocorrência de um evento, um encontro. O tornar-me precisa de um contexto histórico apenas para lhe virar as costas e começar a criar algo novo. O atual não é o que somos, mas o que somos no processo de nos tornarmos o outro. Tornar-me mulher, migrante, jardineira planetária, planta, polinizador, composto, húmus.

O tornar-me é um movimento interior e exterior para o eu e para o outro. Um exemplo de tornar-se e de emergência entre humanos e não-humanos está magnificamente presente nas palavras de Gilles Clément. As plantas viajam. Sobretudo as ervas. Se ceifássemos as nuvens, surpreender-nos-íamos com uma colheita de sementes imponderáveis misturadas com loesse, poeira fértil. No céu, paisagens imprevisíveis estão neste momento a tomar forma. Tudo se presta ao transporte, desde as correntes marítimas até às solas dos sapatos. A maior parte da viagem cabe aos animais. A natureza freta pássaros comedores de bagas, formigas de jardim, ovelhas calmas e subversivas, cujo velo contém campos e campos de sementes. E por fim o ser humano. Animal inquieto em movimentos incessantes, livre trocador de diversidade, passageiro da Terra, casamenteiro privilegiado de casamentos inesperados, ator direto e indireto da vagabundagem, vagabundo ele próprio.

Nesse sentido, todos nós nos estamos a transformar jardineirxs planetárixs com diferentes graus de auto-consciência e responsabilidade. No entanto, já não basta jardinar colocando as sementes de forma inadvertida debaixo da sola do sapato. Cada jardineirx tem a responsabilidade de procurar formação para compreender e saber como apoiar na prática o seu ecossistema local. O papel dxs jardineirxs planetárixs é singular, minoritário e universal. Minoritário, no sentido deleuziano de minoria como um grupo, por mais numeroso que seja, que se desvia do modelo maioritário que é a constante, o estado de direito e de dominação.

A interpenetração constante entre todos os seres vivos e a metamorfose daí resultante é uma ideia que está lentamente a aproximar-se das culturas dominantes. No entanto, esta visão do mundo tem feito parte das culturas das Primeiras Nações de todo o planeta desde há muito tempo. A consciência do papel de cada um num determinado ecossistema surge através dos nossos sentidos. Uma regra do conceito de complexidade de Edgar Morin é que o observador/designer deve integrar-se na sua observação e na sua conceção.

O observador/designer tem de tentar conceber o seu «aqui e agora» auto-eco-organizacional. A sensibilidade através da visão, do tato, do olfato, do paladar, da atenção é o caminho para o aqui e agora. Também precisa de empatia e afeto, tanto para os humanos como para os não-humanos. O afeto é, de certa forma, o oposto de um conceito. Um conceito dá ordem, ou direção, ao nosso pensamento. O afeto, pelo contrário, é o poder de interromper a síntese e a ordem, o poder para a emergência minoritária dxs jardineirxs planetárixs.

As Potencialidade da Quinta das Possibilidades

Escolhi o exemplo dos campos de morangos para ilustrar a forma como a maioria — o complexo agroindustrial — está a gerir o atual modelo de produção alimentar e para expor a forma como este é uma ameaça para as pessoas, a terra, os cursos de água e a soberania alimentar local. Mais importante, talvez, porque este exemplo acontece na vizinhança do meu projeto de vida: a Quinta dos Possíveis. Só na localidade é que se observa a singularidade. E o local e singular articulam-se com o Universal feito de todas as relações entre espécies que se encontram numa parcela do ecossistema planetário.

Para concluir, vou expor brevemente a forma como conceitos como emergência, devir, minoria e complexidade moldaram o meu pensamento e afetos, a minha sensibilidade, permitindo-me imaginar uma prática alinhada com a minha bússola moral e cuidado com o bem-estar humano e não humano.

Nesta projeção utópica, o programa de migração circular governamental bilateral hispano-marroquino tranforma-se num programa mundial de educação integral onde aprendizes de todas as idades e locais de nascimento são bem-vindos para aprender, através de práticas de permacultura (agricultura permanente, cultura permanente), técnicas para criar ou apoiar ecossistemas funcionais. Na Quinta dos Possíveis, as palavras camponês e agricultor fundem-se na palavra jardineiro: o papel planetário mais importante que um ser humano pode desempenhar.

As condições de trabalho são dignas e diversificadas. No final da formação, xs jardineirxs têm à sua disposição uma seleção de aldeias rurais para estabelecer o seu agregado familiar. Estas aldeias fazem parte de um programa de reinstalação-revitalização rural em que a nacionalidade é concedida a qualquer pessoa que deseje participar ativamente na criação, gestão e governação de uma auto-eco-organização local; um ecossistema autónomo. Através da lente da complexidade de Morin, a autonomia é definida como um sistema poroso, osmótico. Um sistema em funcionamento necessita de energia renovada proveniente do ambiente, estabelecendo uma interdependência entre a finitude dos recursos do ambiente e o indivíduo que o recebe e lhe devolve. Ao mesmo tempo, o sistema é fechado para preservar a sua individualidade e originalidade.

Nas palavras de Morin, é preciso ser dependente para ser autónomo. Nas palavras de Goward, um líquen responde ao que se passa à sua volta, e a sua resposta é a sua agência. O mesmo acontece com o mundo vivo.

Esta dependência ambiental implica a revitalização constante do solo, criando e apoiando um ecossistema funcional que vive da diversidade e produz as matérias orgânicas necessárias à sua renovação. Para isso, o modelo agrícola deve transformar-se num ecossistema de floresta comestível, uma agrofloresta. Neste ecossistema, a produtividade é calculada pelo número de indivíduos que podem ser alimentados, mantendo a funcionalidade do ecossistema. Com 300 hectares de produção de culturas diversificadas, a Quinta dos Possíveis alimentaria 246.430 pessoas. O tamanho da cidade de Granada sem a área metropolitana. Em termos de transporte de alimentos, a quinta está localizada a cinco quilómetros do centro da cidade. Em termos de água, a seleção da diversidade de plantas baseia-se num clima semi-árido e em técnicas de permacultura à prova de seca, em que cinco fontes de água fazem parte do projeto — chuva, poço, lagoa, escoamento superficial, recolha de telhados, valas e obras de terra, para recarga de aquíferos, tais como bermas e hugelkultur (construção de um canteiro de jardim a partir de troncos podres e detritos vegetais), gestão de águas cinzentas, tratamento de águas negras, identificação e processamento de resíduos locais, planeamento de compostagem. A quinta é autossuficiente em termos energéticos (moinho de vento, energia solar).

O programa de educação integral da Quinta dos Possíveis é definido como a aprendizagem de experiências práticas significativas a partir de disciplinas intelectuais e conhecimentos práticos para desenvolver uma comunidade onde o tecido das solidariedades sociais humanas e não humanas é reativado. Os valores da educação integral são a igualdade, a cooperação, a autonomia, a interdependência, a partilha, a frugalidade e a capacitação individual e colectiva. A Quinta dos Possíveis serve como um lugar de aprendizagens transdisciplinares e colaborativas e transmite aos participantes de todas as idades o potencial da auto-eco-organização comunitária. Xs jardineirxs planetárixs trabalham no apoio à funcionalidade de um ecossistema aberto e fechado, onde traz singularidade e originalidade, contribuindo para a gestão adequada da finitude dos nossos recursos planetários.

Nesta utopia, os futuros habitantes da Espanha Rural Revigorada são, em parte, migrantes climáticos para os quais a Andaluzia e a Espanha se tornariam um destino acolhedor, educativo e integrador para se estabelecerem.

Natasha Prévost, é antropóloga e especializou-se em pesquisa-acção e projetos de educação popular ligados à permacultura. haciendadelosposibles.org